FILANTROPIA

Cunhadas e sobrinhas se engajam em projetos sociais

Elas se envolvem na organização de eventos para arrecadar recursos e donativos para instituições de caridade

Cunhadas e sobrinhas colocam a mão na massa para organizar eventos, conseguir doações, produzir bolos, costurar camisolas, peças infantis e acessórios, e destinar tudo isso a quem precisa. É o trabalho dos departamentos femininos das Lojas Maçônicas que envolve não só a mão de obra na produção das ações, mas, principalmente, afeto e dedicação.

Equipe do projeto Casa de Ofício, em Aracruz

É assim em Coqueiral de Aracruz, no município de Aracruz, no Projeto Casa do Ofício, do departamento feminino da Loja João Baptista Celestino Nº 24. São 16 mulheres, entre cunhadas e voluntárias, que fazem enxovais para recém-nascidos, toucas para bebês, além de camisolas para as vovós que vivem em asilos.

Os kits contêm três macacões, três calças, dois pares de meias, uma touca e um cueiro, e são embalados para serem distribuídos em hospitais, pastorais e para gestantes que não têm condições financeiras de comprar as roupinhas.

São produzidos cerca de 50 kits por mês, segundo Célia Miranda, coordenadora do projeto, que completa 25 anos este ano.

Departamento feminino da ARLS Fraternidade Universal

Na Loja Fraternidade Universal Nº 8, em Linhares, 80 cunhadas se reúnem uma vez por mês para programar eventos para o ano todo. Assim, é possível levantar recursos para fazer a compra de roupas e alimentos que são doados a orfanatos e asilos. Algumas atividades são realizadas em parceria com DeMolays, Arco-Íris e Castelo dos Guardiões.

Entre os eventos estão petiscada, almoço de domingo, chá beneficente, festa junina e passeios, segundo a presidente do Departamento Feminino da Loja, Ciara Alves Tuler de Lima.

Na Loja Domingos José Martins Nº 17, as cunhadas são “abelhinhas” no Departamento Feminino Colmeia da Amizade. A referência se dá pelo trabalho que é construído pouco a pouco, mas que com a participação de muitas, é possível chegar a uma grande realização.

Dia das Crianças com as cunhadas da Colmeia da Amizade

A presidente, Solange da Penha Velten Rocha, contou que são realizados vários eventos e campanhas durante o ano, inclusive com a produção de tortas doces que elas mesmas fazem. O dinheiro arrecadado é revertido para a compra de roupas, alimentos e materiais de limpeza, entre outros.

Entidades que já conhecem o trabalho da Colmeia procuram as abelhinhas informando o que estão precisando e elas se mobilizam para ajudar. “Tudo é voltado para a filantropia. É uma atividade que traz uma satisfação enorme e sempre aparece mais alguém para colaborar”, destacou.

Esses são apenas alguns exemplos dos trabalhos que são realizados pelos departamentos femininos. Outras cunhadas também organizam atividades que possam levar ajuda aos mais necessitados, reafirmando, assim, os princípios da Maçonaria.

Espaço de convivência

Ter aberto espaço para que voluntárias da comunidade de Coqueiral de Aracruz participassem do Projeto Casa do Ofício, da Loja João Baptista Celestino Nº 24, proporcionou muito mais do que aumentar a colaboração para confeccionar enxovais que são doados para as mamães carentes. Também ampliou o espaço de convivência, proporcionando momentos terapêuticos para algumas mulheres.

“Às vezes a pessoa passa o dia inteiro sozinha, vive desanimada, triste. Quando elas começam a costurar e fazer a entrega para as pessoas carentes, percebem a importância do trabalho e o quanto é gratificante”, disse Célia Miranda, coordenadora do projeto.

Solange da Penha Velten Rocha, do Departamento Feminino Colmeia da Amizade da Loja Domingos José Martins Nº 17, também é testemunha dessa motivação, pois já sentiu na pele o que é ficar desanimada. “Eu mesma já tive alguns problemas na família e encontrei amparo no grupo das cunhadas com as atividades que são programadas. É um trabalho que traz alegria e um retorno enorme”, destacou.

A cunhada Maria de Fátima Moreira Carvalho, presidente do Departamento Feminino Lírios do Campo, da Loja 19 de Novembro Nº 38, em Venda Nova do Imigrante, é outra que relata que a união do grupo é o incentivo para muitas integrantes. “Quando percebemos que alguém está mais distante ou isolada, nos unimos para convidá-la a participar das atividades e aos poucos vamos vendo a pessoa encontrar um novo sentido para a vida. É muito mais do que doar, é encontrar a alegria de viver”, relatou.

Mulheres do Lírios do Campo preparam festa

A agenda fica sempre cheia para não abrir espaço para o que não é bem-vindo. São rifas, leilões, baile dos namorados, Dia das Mães, dos Pais, festa de Natal, além das doações pontuais, que acontecem sempre que recebem pedidos de doações fraldas, remédios e enxovais.

Emoção na entrega das doações

A cada entrega de doações aos que precisam, uma emoção diferente. Por mais que as mulheres dos Departamentos Femininos das Lojas Maçônicas já tenham feito diversas doações, a cada momento, uma nova experiência traz um sentimento especial para quem se envolve nas atividades sociais.

“Para mim, participar do projeto ajuda mais quem doa do que quem recebe. Já fizemos visitas em hospitais e vimos bebês enrolados na roupa da própria mãe. É de partir o coração. Isso nos mobiliza a produzir roupinhas e toucas para o recém-nascido usar logo após o parto, pois nem sempre o hospital tem para oferecer”, disse Célia Miranda, coordenadora do Projeto Casa do Ofício, da Loja João Baptista Celestino Nº 24, em Aracruz.

Ciara Alves Tuler de Lima, presidente do Departamento Feminino da Loja Fraternidade Universal Nº 8, em Linhares, conta como se sente quando faz as entregas às entidades. “Eu sou muito emotiva e choro muito. As crianças querem colo, são carentes não só de bens materiais, mas também de amor e carinho. Dá vontade de levar para casa”, desabafou.

Solange da Penha Velten Rocha, presidente do Departamento Feminino Colmeia da Amizade, da Loja José Domingos Martins Nº 17, compartilha do mesmo sentimento. “Em alguns locais, a situação é bem complicada. Mas a recepção é tão calorosa, que o sentimento de gratidão do outro volta para nós. É isso que motiva. Tem a dificuldade, o trabalho de conseguir as coisas, mas tudo é recompensado”.

Perceber o empenho das pessoas em querer ajudar o próximo é uma das atitudes que mais motivam Ciara a continuar se dedicando à filantropia. “Sempre aparece alguém para ajudar. É impressionante. Temos um grupo no aplicativo de conversas e ficamos atentas aos pedidos de fralda, leite, alimentos. Logo as cunhadas e até gente de fora do grupo que fica sabendo se prontifica a ajudar e saímos recolhendo material”, contou.

Célia Miranda lembra que toda doação é bem-vinda e que muita coisa é reaproveitada e revertida em novas criações. Por meio de parcerias, o projeto recebe malha de algodão, elástico, linha, sacolinhas, entre outros materiais. Até os tecidos que sobram dos cortes das roupinhas para recém-nascidos são feitos novos kits com três calcinhas para meninas que estão em casas de passagem e abrigos.

“Tudo é aproveitado. Até os fiapos das costuras são utilizados para enchimento de bonecas. Levamos para as igrejas e comunidades carentes, onde mulheres fazem tapetes e ficam motivadas por poder produzir alguma coisa que nem elas sabiam que poderiam fazer. É muito gratificante”, ressaltou.

Olheiras ajudam a priorizar entregas

Com tantos pedidos de doações, é preciso priorizar as necessidades, de forma que todas as demandas possam ser atendidas. Para isso, toda vez que chega um pedido individual, uma olheira faz uma visita a quem está fazendo a solicitação para verificar o que a pessoa necessita mais.

Essa é a maneira que o Departamento Feminino Colmeia da Amizade, da Loja Domingos José Martins Nº 17, encontrou para saber exatamente o que a pessoa precisa e procurar doações para entregar aquilo que vai suprir suas expectativas.

As “abelhinhas” identificam o que é necessário e vão ao comércio pedir descontos e doações. “Nos unimos para dar um jeito de conseguir o que a pessoa está precisando. Às vezes, a própria abelhinha se prontifica a doar”, contou a presidente do departamento, Solange da Penha Velten Rocha.

E a doação da cunhada pode ser bem generosa. Solange conta que um anel de ouro já foi doado para ser sorteado em um bingo da loja numa festa de fim de ano. O dinheiro arrecadado foi revertido em doações que atenderam várias famílias.